Tratar de invisibilidade social é abordar a
vida em sociedade a partir da questão: o que é ser alguém?
Pode-se definir invisibilidade social como
sendo a situação em que indivíduos / grupos não são notados. É importante
considerar uma ampliação do que seria ser notado: tanto pode ser a situação em
que não se vê uma pessoa por causa da função que ela desempenha no mundo do
trabalho quanto pode ser a situação em que indivíduos/grupos não usufruem de
direitos e as possibilidades de reivindicarem e terem suas necessidades
atendidas é mínima (em extremos: nula).
O que produz invisibilidade social é a
estratificação. Sendo estratificação a distribuição desigual de riqueza,
prestígio e poder e, a partir desta distribuição, indivíduos ocuparão lugares
sociais mais ou menos bem vistos ou bem quistos. Um exemplo que se pode dar é o
do vendedor de picolé que a mãe não quer que seja seu genro ou da garota de
programa que o pai não aceita como nora.
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Que Horas Ela Volta? aborda, entre outros temas,
a invisibilidade social de quem exerce funções fundamentais
mas que ocupam uma posição social de baixo prestígio |
Os exemplos dados mostram como no mundo do
trabalho temos uma sociedade que legitima algumas profissões e não aceita
outras. São as inaceitáveis que carregam amargamente o manto da invisibilidade
social. É importante identificar que não aceitar não implica não precisar, pois
o que se pode observar é que essa mesma sociedade que não aceita a garota de
programa ou o vendedor de picolé como membros de sua família, grita pelo
vendedor na praia e contrata as “acompanhantes” para animar eventos
considerados de alta estirpe.
Exemplos mais contundentes de invisibilidade
social no campo do trabalho são os dos garis, dos “tios e tias” da limpeza em
repartições públicas, empresas etc. Para demonstrar essa invisibilidade,
pergunto para você que lê este texto: sabes o nome daquele que limpa o banheiro
da escola em que estudas? Da moça que está na portaria a quem você recorre para
que ligue para sua família em situação de necessidade? Pronto! Acabas de
entender de maneira prática a invisibilidade no campo do trabalho.
A invisibilidade social extrapola o âmbito do
trabalho e está no campo da cidadania, do usufruto de direitos. Aqui podemos
direcionar nosso olhar para aqueles e aquelas para quem a possibilidade de
participar da riqueza coletiva (direitos sociais) é praticamente nula: são
moradores/as de rua, crianças e adolescentes em situação de risco, pessoas
trans, homoafetivos/as e quem não fizer parte do chamado “padrão”.
Se você já pensou, em alguma situação, algo
do tipo: “mas é só ‘trombadinha’; é só uma mendiga; pra que isso tudo? É só um
bêbado!” então você, sem notar, ostentou o manto da invisibilização social,
invisibilização que não identifica em nenhuma dessas situações a possibilidade
de existir ali um sujeito de direitos, alguém que mereceria, como se diz no
cotidiano, alguma consideração.
Quem, sem saber, usa o manto da
invisibilização, não percebe, mas quem é invisibilizada/o percebe com mestria o
que acontece, tanto no mundo do trabalho quanto nas ruas. No primeiro caso,
basta mais atenção para perceber que funcionárias/os sempre tiram a farda
quando termina o dia de serviço porque dessa forma são percebidos como “gente”
(pense se em algum momento você não se espantou quando percebeu que aquele
rapaz tão belo é o zelador de seu prédio) e, no segundo caso, quando se
conversa com eles/as e se ouve frases do tipo: adianta não, moço, a gente é nada
não.