A maneira como uma
sociedade se diverte é também como essa sociedade se vê. Muitas
tensões sociais podem ser identificadas em momentos festivos. O
carnaval pode ser um laboratório dos mais instigantes e reveladores
das formas brasileiras de lidar com questões específicas, como
classe, gênero, etnia etc.
Pensemos nas
fantasias: homens “viram” mulheres, mulheres “viram” homens,
crianças são fantasiadas como adultos/as e assim,
carnavalescamente, se vai. Ao pensar nas fantasias, quem nunca viu ou
mesmo se fantasiou com perucas estilo “black power”? Ou ainda com
dreadlocks? Ou mesmo filás com as cores verde, vermelha e amarela?
Pois é, muitas pessoas. Mas vale aqui pensar um pouco além sobre
essas fantasias, mesmo porque elas colocam como elemento festivo
(zombeteiro às vezes) uma pessoa, o cabelo que ela ostenta, aspectos de seu corpo.
O que se quer dizer
aqui é que muito dificilmente se vê cabelos lisos como adereços,
fantasias para o carnaval. Mas se vê cabelos lisos sendo vendidos e
comprados a preços elevadíssimos, sendo inclusive postados anúncios
e cartazes comunicando: “compramos cabelos humanos”. É aqui que
podemos inserir uma chave de leitura e de entendimento: cabelos de
pessoas negras são para fantasias, para festas e cabelos lisos, não. Estes, ao serem vendidos e comprados, aparecem com mais valor agregado do que outros tipos, outras fibras.
Sendo consciência
coletiva o conjunto de crenças e sentimentos que compõem a visão
de mundo da média da população de uma sociedade, então o uso de
cabelos estilo “black power” como fantasia demonstra a maneira da
nossa sociedade enxergar a população afrodescendente. É colocada
em um local hierarquicamente inferior, não humano, digno, muitas
vezes, de piada, de risos.
Tranças afro presas
em filás, dreadlocks, perucas estilo “black power” sendo
vendidas como fantasias demonstram o lugar de coisa que a população
negra tem no imaginário brasileiro, na consciência coletiva de
muitos setores do país. A discriminação acontece muitas vezes de
maneira explicita, mas é de forma implícita que ela é construída
com mais solidez.

Não cabe aqui
afirmar de imediato que é verdade ou não, mas pensar sobre a
situação: quando ter a pele clara, o cabelo liso, os olhos verdes
ou azuis é motivo de piada ou mesmo é fantasia? E mesmo que isso
aconteça, esses casos confirmam o que a consciência coletiva é, ou
seja, o que a maior parte das pessoas pensa sobre si e sobre
outras/os e, nesse caso, a população afrodescendente ainda é colocada em posição de subalternidade no imaginário coletivo.
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