
A recente onda de ocupações nas escolas de ensino médio e
universidades de todo o país expõe essa oposição e permite identificar que o
usufruto dos nossos direitos pode implicar, algumas vezes, que outras pessoas
não usufruam dos delas. O caso das ocupações é um deles: temos o direito à
educação entrando em conflito com – uou! – o direito à educação. Grupos de
estudantes ocupam escolas e as aulas são paradas. Estudantes que querem
assistir às aulas questionam e acham ruim não poderem ter o direito de estudar
e, mais ainda, se vêm obrigados/as a participar de um movimento que os
prejudica.

Por outro lado, o que se está reivindicando é o mesmo
direito à educação que os/as ocupantes se organizam para ampliar e mesmo
garantir com alguma qualidade, considerando a situação precária de muitas
escolas, a falta de professores/as que sejam efetivamente das disciplinas que
lecionam (sabe-se que aulas de matemática são ministradas por professoras/es
graduadas/os em biologia e outras variações) e contra a retirada da
obrigatoriedade de aulas de educação física, artes, filosofia, sociologia (o
autor deste texto treme com estas últimas).
Seria algo do tipo: estudantes que querem gozar do direito
de assistir às aulas X estudantes que querem garantir a manutenção e ampliação
do direito de assistir às aulas e à educação de qualidade. Essa situação de
conflito é ampliada quando se classificam em “estudantes alienados/as” (os que
são contra as ocupações) e “estudantes engajados/as” (os que ocupam) um grupo
que é todo formado por ESTUDANTES.

Não se trata de botar gosto ruim nas ocupações ou de defender
que as aulas sigam sem interrupções, mas sim de perceber as contradições, que
são muito importantes para serem tratadas de forma simples (simplória) e, nesse
sentido, caberiam questionamentos: a quem interessa que indivíduos de um mesmo
grupo (os estudantes) briguem entre si? Será
que são alienadas/os quem não concorda em perder aulas e mesmo o ENEM? Ou
seriam alienados/as os/as que foram produzidos/as por uma sociedade que passa o
tempo inteiro afirmando individualismo em frases como “se eu não fizer por mim,
ninguém fará!”?
Será que são baderneiros/as quem ocupa as escolas ou são
aqueles/as que cansaram de ser “o futuro da nação” e decidiram assumir o
projeto do próprio futuro?
A ocupação de escolas e universidades é violenta, mas pagar
mal professoras/es, excluir disciplinas através de uma reforma que não dialoga
verdadeiramente com quem será afetada/o não é violência?
Citando Brecht, o Bertolt:
Tantos relatos.
Tantas perguntas.
Mais importante: pense sobre isso.
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