
A intenção não é defender ou acusar este ou aquele grupo,
mas esclarecer alguns elementos muito repetidos e que por estarem ligados ao
conhecimento histórico merecem um melhor tratamento. Vamos lá:
1. “A política nazista fez uma campanha de aceitação forçada
para o povo”. Ao utilizarem este argumento procuram defender que determinados
partidos políticos estão forçando a população a aceitar a homossexualidade.
CORREÇÃO: O que
Hitler fez não foi obra de um poder hipnótico macabro ou de uma máquina de
controlar mentes. Ele foi o catalisador e agregador de um sentimento
antissemita que grassava pela Europa ocidental desde o medievo. Com a crise
econômica de 1929 e a descrença no liberalismo após a Primeira Guerra Mundial e
sob a ameaça de crescimento do socialismo soviético, muitos apoiaram a ideia de
um Estado centralizador (negação da não-intervenção estatal do liberalismo
clássico) e garantidor da propriedade privada (negação do socialismo e sua
defesa da destruição da propriedade privada burguesa). Não há, por parte do
partido que está no poder, uma campanha de imposição de práticas homoafetivas, mas
sim a defesa delas poderem se expressar e garantir direitos jurídicos que lhes
são negados ainda que sobre esses grupos recaiam as mesmas obrigações da dita
“normalidade”.
2. “A história da sociedade ocidental é a história do homem
e da mulher”. Busca-se afirmar que a história da humanidade foi feita apenas pelos
homens e pelas mulheres, não tendo participação quem estava fora da
heterossexualidade monogâmica.
CORREÇÃO: A
história da sociedade ocidental é a história do que foi registrado por homens
que afirmavam e defendiam o modelo heterossexual, logo, registros de qualquer
ação fora desse modelo mal existem e quando existem, a maior parte, foi feito
com o olhar do padrão estabelecido. O silêncio, em história, diz muito sobre as
práticas sociais de outros tempos e espaços. Segue-se assim o exemplo cotidiano
de não falar sobre algo, sobre um problema, seja qual for, crendo que ele
deixará de existir. Citando o poeta Brecht:
O jovem Alexandre
conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os
gauleses.
Não levava sequer um
cozinheiro?
O silêncio sobre os cozinheiros no exército de César é prova
de que eles não existiram ou não participaram da conquista? Não. Manter essa
afirmação é incorrer em um erro histórico grave.
3. “Os nazistas faziam campanha nas escolas para doutrinarem
as crianças garantindo adeptos para as suas ideias e o Estado brasileiro quer
‘formar gays desde criancinha’ ao
distribuir kits abordando a temática em escolas”.
CORREÇÃO: O
Estado nazista implementava uma educação que buscava formar cidadãos preparados
para obedecer ao Fuehrer e as escolas valorizavam mais a ação do que a
reflexão. Incentivava-se, também, a negação do Outro, daquilo que não era
alemão, a denominada “raça ariana”. Uma observação mais cuidadosa dos chamados
“kits gays” garantirá o entendimento que o objetivo é combater atos de
violência verbal, física, simbólica contra as crianças e adolescentes que não
se enquadram no SUPOSTO comportamento correto. A afirmação que se quer fazer a
juventude crescer homossexual é fruto de desconhecimento do conteúdo do kit. O
Estado nazista não intentava formar pensadores e sim executores de ordens. O
objetivo do kit é possibilitar, desde a tenra idade, a percepção de que o mundo
não é meu umbigo ou minha forma de pensar e, PRINCIPALMENTE, DEIXAR VIVER
AQUELA/AQUELE QUE NÃO É MEU REFLEXO NO ESPELHO.
ALGUNS
ESCLARECIMENTOS:
O PLC – 122 (Projeto de Lei da Câmara) muito mencionado e
pouco lido e refletido, deve ser entendido de maneira mais ampla, histórica e
sociológica. A elaboração de lei é fruto de um contexto histórico ligado a
necessidades específicas, seja de uma pessoa, seja de uma coletividade. Vale
ressaltar que a maior parte das leis liga-se a necessidade de grupos que, ou
estão no comando ou pressionando quem está.
O PLC – 122 foi elaborado com o objetivo de ampliar a lei
7716/89. Esta lei criminaliza racismo, discriminação por PRECONCEITO RELIGIOSO
e XENOFOBIA. Atente para o fato de que a lei 7716/89 não é uma lei contra o
racismo, como se afirma muito por aí e que nela está inserida a criminalização
por PRECONCEITO RELIGIOSO, logo, não se estava garantindo direitos para uma
minoria em detrimento da maioria, como anda sendo afirmado.
Esse mesmo PLC – 122 abarca que a reação contrária, de
homossexuais discriminando heterossexuais também seja crime.
Deve-se considerar que o PLC – 122 não vai tornar crime o
pensamento preconceituoso. O que vai ser criminalizada é a discriminação. Exemplo:
posso pensar comigo que não gosto de duas mulheres se beijando no cinema, mas
se as expulso do cinema pois são duas MULHERES se beijando, então configura-se
a discriminação. A discriminação seria tornar ato aquilo que eu penso. Enquanto
penso, é preconceito, quando impeço alguém de usufruir de direito porque vai de
encontro ao que penso, estou discriminando.
Outro exemplo: se um sacerdote religioso adverte duas
mulheres que se beijam no pátio de seu templo porque é considerado
desrespeitoso QUALQUER BEIJO ENTRE CASAIS, então não há crime de homofobia. Contudo,
se o casal que se beija é advertido pois SÃO DUAS MULHERES/HOMENS E NÃO SE
ACEITA A DEMONSTRAÇÃO DE CARINHO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO, ENTÃO
CONFIGURA-SE HOMOFOBIA.
O que presenciamos hoje é uma mudança importante que a
sociedade marcada pela heterossexualidade monogâmica está passando. Assim como
olhamos para os registros de mulheres sendo queimadas sob acusação de bruxaria
na idade média europeia ocidental com perplexidade perante tamanha brutalidade,
as gerações posteriores poderão olhar para os registros desses momentos e
perguntar: como puderam ser tão intolerantes?
Pense fora da caixa.
Tenha HISTÓRIA NA CABEÇA