
Costuma-se realizar shows com artistas consagrados, são
feitas manifestações em praças, a imprensa noticia e muita gente felicita
negros e negras por essa data. Considero importante e tão importante é que vale
a pena lembrar alguns pontos:
1. NÃO SOMOS DESCENDENTES DE ESCRAVOS: somos descendentes de
africanos que foram escravizados.
Escravo não é espécie, não existem escravos machos e escravas fêmeas que
acasalaram e originaram escravinhos, nascidos biologicamente determinados a
“servir” outras pessoas; ESCRAVO É CONDIÇÃO IMPOSTA E NÃO ESPÉCIE;
2. MEU CABELO NÃO É RUIM: não matou ninguém, não bateu em
crianças, não torturou. É MEU CABELO, É BOM PARA MIM. O SEU CABELO É SEU E POR
ISSO É BOM PARA VOCÊ. Afirmar que meu cabelo, diferente do seu, é ruim, é
manter o discurso histórico de valorização do padrão estético europeu. Esse
discurso negou e nega a afirmação de beleza e identidade afro-brasileira. Como
compôs Chico César: RESPEITEM MEUS CABELOS, BRANCOS;
3. NÃO SOU UM SAMBISTA DE NASCENÇA: nem dançarino natural,
nem corredor de maratona e muito menos jogador de futebol desde o interior do
útero de minha mãe. Se há destaques afro-brasileiros nessas áreas isso merece
uma observação: há falta de investimentos noutras áreas, o que limita
participação “ao que está mais perto” da realidade dos que se destacaram na
música, na corrida, no futebol. Estenda escolas de qualidade para a população
negra, possibilite acesso ao conhecimento científico e forme cientistas e assim
sucessivamente em outras vertentes do saber e do fazer humanos;
4. ERRAR É HUMANO: quando erro, o fiz por não saber e não
porque sou negro; frases como “viu o que ele fez? Também, só podia ser negro”,
são carregadas de visão estereotipada, arrogante e depreciadora; quando se
afirma dessa maneira, pode-se entender que quando um negro erra, é porque ele é
naturalmente é um “errador”. Quando acertamos não se diz “acertou pois é
negro”. Entendeu o caminho do discurso que legitima preconceitos, estereótipos?
5. POSSO ME VESTIR DO JEITO QUE EU QUISER: se uso roupas
coloridas, sem cor, saias curtas, blusas decotadas é porque EU QUERO USAR.
Afirmar: “ela/ele se veste desse jeito porque é negr@” recai no que foi escrito
acima; colorida ou sem cor, é roupa. NÃO EXISTE ROUPA DE NEGRO E NEM ROUPA DE
BRANCO; É TUDO ROUPA. Posso usar roupas que meus ancestrais usaram, posso usar
roupas que estadunidenses vendem – ainda que pouco propícias ao clima do local
que vivo; o faço pois vivo em sociedade e não porque sou negr@;
6. NÃO SOU PRECONCEITUOSO COMIGO MESMO OU RACISTA COM OUTRAS
PESSOAS NEGRAS: se há negr@s que fazem comentários racistas, o fazem como fruto
da sociedade que foi gerada durante séculos de escravidão e que construiu a
negação do ser negr@ associando muita coisa ruim a palavra NEGRO (abra o
dicionário nesta e tire suas conclusões), logo, é mais difícil querer ser
identificado com coisas ruins, não é?
7. USAR UMA CAMISA COM O TEXTO 100% NEGRO, NÃO É RACISMO: acompanhe
o raciocínio: afirmar-se 100 % negr@ é posicionar-se tendo como objetivo tornar
positivo algo que foi secularmente taxado de negativo. É mais possível uma
pessoa negr@ não ter conseguido emprego, ter sido a única revistada por
policiais em um coletivo porque era negra do que porque era branca. Esse mesmo raciocínio
pode ser estendido para mulheres e homossexuais.
8. EXU NÃO É O DIABO, OXALÁ NÃO É JESUS: o Mal não foi
criado pelos africanos com suas diversas religiões, até porque, se você
desligar o botão do preconceito e do medo, implantado em sua mente pela
tradição judaico-cristã, conhecerá religiões com características bastante
humanitárias. Acreditar no que sacerdotes, que afirmam terem participado dessas
religiões, falam, sem procurar saber, é se privar de algo que, segundo a
tradição judaico-cristão, nos diferencia de outros animais: o livre-arbítrio.
Há charlatões em todos grupos religiosos, então não fale da sujeira da casa
alheia se a sua tem lixo no quintal;
9. MEU PÊNIS NÃO É GIGANTESCO E NEM MINHA VAGINA É MAIS
QUENTE PORQUE SOU NEGR@: tradicionalmente se afirmou que homens
negros/afrodescendentes são mais “bem dotados” que os outros. Ainda que
supostas pesquisas científicas afirmem que a média dos homens negros tenha o
órgão sexual maior que os homens brancos, existem homens brancos (e não devem
ser poucos) com pênis grandes também.
Muitas
mulheres não negras transam tão bem quanto mulheres negras; esse discurso é tão
introjetado que quando homens conversam sobre alguma mulher com quem estão
saindo ou simplesmente vai passando na rua, dizem: “tô saindo com uma ‘nega’
boa danada”, ou “olha ali, que ‘nega’ gostosa”, e usam para se referir a
mulheres brancas. Talvez você agora pense que é exagero. Não é exagero, não. As
visões preconceituosas foram tão repetidas que se naturalizaram e não percebemos
o sentido implícito do que falamos e/ou
pensamos;
Concluindo: NÃO SOU DESCENDENTE DE ESCRAVO; MEU CABELO NÃO É
RUIM; NÃO TENHO QUE SABER SAMBAR, DANÇAR, JOGAR FUTEBOL OU SER EXÍMIO CORREDOR;
USO ROUPAS COLORIDAS - OU NÃO - PORQUE EU QUERO; ERRO PORQUE SOU HUMANO E TODOS
HUMANOS PODEM ERRAR; NÃO SOU UM HOMEM TRIPÉ OU MULHER COM VAGINA FLAMEJANTE...
SOU HUMANO COMO VOCÊ, QUE LÊ ESTE TEXTO, E TENHO DIREITO AO RESPEITO E A
RECLAMAR QUANDO SOU MALTRATADO.
Consciência negra não é só para negr@s. É consciência para
tod@s que são excluíd@s nessa sociedade e que sendo negr@s padecem mais
cruelmente ao som do ainda vivo discurso da democracia racial.
Mais do que falar sobre o que acontece temos que agir para mudar e essa mudança pode começar parando de contar piadas sobre negr@s, sorrir quando alguém conta e nos posicionarmos contra qualquer ato discriminatório, contra qualquer pessoa, independente da aparência, sexualidade, poder aquisitivo, origem, credo religioso ou ateísmo. Aí sim, serão desnecessários dias da Consciência Negra, das Mulheres, dos Índios...
PENSE FORA DA CAIXA
Tenha HISTÓRIA NA CABEÇA
Porque que afirmar a cor, quando cor não deve possuir valor? Porque não inventar pra humanidade: Dia da consciencia pesada? ou Dia da consciencia humama?
ResponderExcluirTextos assim só firmam o preconceito, não existem negros ou brancos, existem humanos, afirmar características por conta de cor de pele é diferenciar, e completamente desnecessário.
ResponderExcluirA diferença é natural mas a desigualdade é social, historicamente construída e culturalmente legitimada. As afirmativas do texto buscam negar o que é naturalizado como características inerentes à população afrodescendente.
ResponderExcluirE sim, existem negros e brancos e as características dessas etnias são importantes e devem ser igualmente valorizadas como humanas que são, o que na prática pouco acontece.
A sociedade, na qual vivemos, estabelece padrões estéticos, culturais hegemonicamente europeizados ou americanizados (referindo-se aos EUA). Observar ao redor vai ajudar muito: as modelos com cabelos lisos, as propagandas de margarinas com famílias , em sua maioria, brancas, as telenovelas que mais retratam uma parcela que não é majoritária da população brasileira.
Vou copiar a conclusão do texto: NÃO SOU DESCENDENTE DE ESCRAVO; MEU CABELO NÃO É RUIM; NÃO TENHO QUE SABER SAMBAR, DANÇAR, JOGAR FUTEBOL OU SER EXÍMIO CORREDOR; USO ROUPAS COLORIDAS - OU NÃO - PORQUE EU QUERO; ERRO PORQUE SOU HUMANO E TODOS HUMANOS PODEM ERRAR; NÃO SOU UM HOMEM TRIPÉ OU MULHER COM VAGINA FLAMEJANTE... SOU HUMANO COMO VOCÊ, QUE LÊ ESTE TEXTO, E TENHO DIREITO AO RESPEITO E A RECLAMAR QUANDO SOU MALTRATADO.